E como se desse tempo para esquecer... não passa uma semana e chega um email: "Taty, quer almoçar num restaurante japonês amanhã???"
As pernas tremem, as borboletas acordam do profundo sono no escurinho do estomago vazio, o sol brilha, os passarinhos cantam.... calma, chega, pára tudo!! Ele quer só minha amizade!!!
Mas e agora, o que eu respondo?
Quero ir... preciso me testar.. preciso descobrir se consigo. Não quero ir, vai ser difícil demais olhar para ele e não poder beijá-lo. Ver as mãos dele apoiando na mesa e não poder tocá-las. Dizer “não, obrigada, não quero sobremesa” sem colocar “amor”,no começo, meio ou final da frase.
Eu quero ir, preciso olhar pra ele, sentir o cheiro dele, mesmo que de longe. Não, eu não quero ir, ele é incapaz de me devolver o que eu perdi e preservava, não darei a amizade que ele tanto estima...
E o conflito interno tomou conta do meu ser por 26 horas, quando finalmente consegui responder: “Bom dia, como vamos fazer?”. E no pensamento: "Ele quer só minha amizade!!!"
Uma roupa simples e bonita, afinal, eu não estou indo para seduzi-lo, mas quero que ele pense: ‘nossa, que linda’. Perfume: o que ele deu de presente. Será que ele é capaz de identificar o cheiro? Capaz, né... Banho, cabelo, unha, maquiagem –Meu Deus, está quase na hora!!! Meu carro virou um jatinho!! E exatamente com 3 minutos de atraso (um ou dois faróis fechados que eu não contava) lá estava eu, na porta da casa dele.
Filho da mãe, ele colocou a camisa vermelha... Meu Deus, é muita sacanagem... como ele fica lindo de vermelho... e ele sabe que eu gosto... eu devia ter vindo com um decote mais provocante. Não, não, não.... ele quer só minha amizade!!!
Ele está chegando, cada vez mais perto... Putz, primeiro balde de água fria. O medo era tanto de errar o rosto que ele quase beijou minha orelha...
Lógico que eu não esperava por um beijo na boca, afinal não beijo amigos na boca. Mas tamanho distanciamento me fez pensar pela primeira vez o que eu estava fazendo ali. Calma, Tatiana, ele está dizendo corporalmente o que você já está cansada de saber: Ele quer só sua amizade!!!
Papo vai, papo vem, falamos dos empregos, das famílias, dos amigos, dos planos futuros... tudo muito agradável. E eu até me sentia totalmente a vontade.... quando não olhava pra ele!! Porque quando eu olhava, eu lembrava que não tinha mais beijo, nada de carinho, nada mais mãos dadas, nunca mais “babolinda”.... também, né... ele quer só minha amizade...
- “Vamos comigo no shopping?”
E agora, o que eu respondo? Não sei, não sei, não sei.. que vontade de fugir, que vontade de ficar...
- “Sim, pode ser”.. saiu no automático, sem eu pensar.
Bem, ele comprou o que precisava, me agradeceu por ajudá-lo a escolher e voltamos. Parei para abastecer no posto em frente ao prédio dele. Enquanto a bomba enchia o tanque, pela primeira vez saímos do assunto “você” e tocamos no assunto “nós”... quer dizer, ele tocou:
- “Não quero que você fique chateada, quero você bem, agora eu entendo o que dizia sobre não me querer por perto. Se não for para te fazer bem e se isso te alimentar esperanças de algo que não vai acontecer e blá blá blá wiskas sachê... não vai acontecer, não vai acontecer, não vai acontecer... Depois dessa frase, não ouvia mais nada, além do eco que ela proporcionou. Não vai acontecer!!! Ele quer só minha amizade.
Tudo que consegui dizer foi: “Foi agradável, vamos ver como vai ser o ‘Pos’, te mantenho informado”... e vamos para digestão dos fatos!!!
Outro abraço distanciado, daqueles que a gente dá no tio-avô que nem lembramos o nome e entro no carro. Um tchauzinho pelo retrovisor e uma sensação absurda de “algo faltando”...
Foi tudo perfeito.. a companhia agradável e educada, os bons papos (embora nada bazzingas), mas um vazio enorme pela falta do que realmente me 'falta'... Não doeu. Não chorei. E acho que estou até agora sem saber o que dizer... Mas o vazio nunca será preenchido, disso eu sei! Nunca mais romance, nunca mais cinema, nunca mais drinque no dancing, nunca mais “cheese”... Nunca uma espelunca, uma rosa nunca... Nunca mais feliz...
Então, se nunca mais, por que não tentar sermos amigos?
Adicionei no face de novo, no skype, no MSN. Peguei o num do celular de volta e troquei a frase: “Bom dia, dia!” para: “Ele quer só minha amizade”.